Exposição
SESC São Carlos - SP (2009)
Em 2009 o SESC Santo André SP e SESC São Carlos SP ajudaram a viabilizar a minha arte através de exposições, eventos e oficinas.
Agradecimento à Diretoria e todo pessoal das 2 unidades e em especial à Rafael Spaca (Santo André) e Sandra Frederici (São Carlos).
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Sobre as "pílulas" de memória: "um brasileiro que nem eu"
As obras vistas nesta exposição são de autoria do artista plástico Zé Andrade. Baiano e morador do bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro, ele dá forma a argila e oferece um minucioso trabalho de registro e criação de "pílulas de memória em forma de gente", conforme suas próprias palavras.
A plasticidade do barro como ferramenta e o interesse pela produção artística resultam em pequenas esculturas que retratam a diversidade e formas de expressão da cultura brasileira.
Seus expoentes são apresentados a partir da marcação de seus traços de personalidade e obra, lembrando por vezes as tradicionais caricaturas. Seu intuito, manter vivas essa figuras em nosso imaginário.
Em homenagem a todas estas personalidades, incluindo-se aí a figura do próprio Zé Andrade e de todos os brasileiros, esta exposição vem com duplo objetivo: colocar em foco a riqueza das várias formas de contribuição social e a importância do reconhecimento no outro de 'um brasileiro que nem eu', como lembrou certa vez Mário de Andrade.
A exposição foi exibida durante os meses de Outubro e Novembro de 2009, no Saguão do Teatro de São Carlos.
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A memoria, com afeto
Há pessoas que inventam poemas, teorias, aviões.
Zé Andrade inventou um museu imaginário, onde vivem personagens de nossa memória afetiva: gente como Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado e Villa-Lobos.
Transformados em esculturas de cerâmica, cabem na palma da nossa mão; assim, em pequena estatura, ícones da cultura e da arte ganham vigor surpreendente.
A economia de traços lembra a síntese da charge, mas o artista, que já fez caricatura impressa, vai além.
A pequenez comove, desperta o humor e, sobretudo, leva à observação inédita, atenta à singularidade de cada ser representado. Renova-se o sentido da imortalidade, uma permanente construção.
Em seu trabalho, Zé Andrade quebra barreiras. O mundo erudito se junta ao popular. O lado imaterial da memória mistura-se à materialidade e precariedade de objetos manuseáveis. E a dimensão de realismo – pela semelhança entre o personagem e a imagem real do modelo – é relativizada pela poesia que imprime às peças. Nasce uma profunda empatia, que também aparece nas suas máscaras de grandes dimensões.
Baiano radicado no Rio de Janeiro, Zé Andrade faz uma releitura da tradição nordestina no trabalho em barro, dando-lhe um caráter sui generis no tratamento da matéria prima, na seleção das personalidades, pesquisa e dimensão afetiva. Tudo converge para um projeto memorialístico.
Ele re-consagra figuras do patrimônio artístico e cultural. Cada uma delas fala de si e, ao mesmo tempo, de todos os expoentes que alimentam nossa inteligência e sensibilidade.
É possível chamar as criações de bibelô: "objeto pequeno de curiosidade, beleza ou raridade". Essas criaturas trazem o que, de certo modo, já nos pertence: nosso território de lembranças, desejos e escolhas. Zé Andrade captura essa memória e lhe acrescenta terra, técnica e talento.
Nascem as poderosas figuras em que nos re-conhecemos.
O artista é, sim, um revelador.
Coisas de museu imaginário.
Clarisse Fukelman
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Humanidades
Quando criança eu tinha medos. A noite chegava, o sono não vinha, o escuro me amedrontava. Para espantar o pavor, uma tia me apresentou Monteiro Lobato. Seus heróis me fizeram companhia. Foi fácil seguir o fio da meada e atravessar a longa jornada noite adentro
Minhas mãos surpreendiam, criavam coisas que não havia aprendido, mas que sabia fazer. Elas, as minhas mãos, me contavam histórias...
O barro é parte das mitologias. Na gênese cristã, judaica, grega e de outros povos, elas também estão presente.
Humanidade vem de húmus, terra fértil, boa para o plantio.
Prometeu, herói mitológico que nos fez do barro, vendo as criaturas indolentes, sem vida, sem alma, resolveu desafiar os deuses e roubar um bem precioso: o fogo, privilégio exclusivo deles. Por essa ousadia foi punido.
As figuras aqui retratadas são o próprio fogo, transformador por tudo que criaram. Elas representam faróis ou velas acesas na escuridão.
Zé Andrade